23 janeiro 2006

OS FILÓSOFOS PRÉ-SOCRÁTICOS


Aqui você encontrará os seguintes pensadores pré-socráticos:Tales de Mileto , Anaximandro de Mileto, Anaxímenes de Mileto, Xenófanes de Cólofon, Heráclito de Éfeso, Pitágoras de Samos, Parmênides de Eléia, Empédocles de Agrigento , Anaxágoras de Clazomena e Demócrito de Abdera.

A passagem da consciência mítica e religiosa para a consciência racional e filosófica não foi feita de um salto. Esses dois tipos de consciência coexistiram na sociedade grega.
De acordo com a tradição histórica, a fase inaugural da filosofia grega é conhecida como período pré-socrático. Esse período abrange o conjunto das reflexões filosóficas desenvolvidas desde Tales de Mileto (623-546 a.C.) até Sócrates (468-399 a.C.).
Os primeiros filósofos buscam a arkhé, o princípio absoluto (primeiro e último) de tudo o que existe. A arkhé é o que vem e está antes de tudo, no começo e no fim de tudo, o fundamento, o fundo imortal e imutável, incorruptível de todas as coisas, que as faz surgir e as governa. É a origem, mas não como algo que ficou no passado e sim como aquilo que, aqui e agora, dá origem a tudo, perene e permanentemente.
No vasto mundo Grego, a filosofia teve como berço a cidade de Mileto, situada na Jônia, litoral ocidental da Ásia Menor. Caracterizada por múltiplas influências culturais e por um rico comércio, a cidade de Mileto abrigou os três primeiros pensadores da história ocidental a quem atribuímos a denominação de filósofos. São eles: Tales, Anaximandro e Anaxímenes.
O objetivo dos primeiro filósofos era construir uma cosmologia (explicação racional e sistemática das características do universo) que substituísse a antiga cosmogonia (explicação sobre a origem do universo baseada nos mitos).
Em outras palavras, os primeiros filósofos queriam descobrir, com base na razão e não na mitologia, o princípio substancial (a arché) existente em todos os seres materiais.
Os pré-socráticos ocuparam-se em explicar o universo e examinavam a procedência e o retorno das coisas. Os primeiros filósofos gregos tentaram responder à pergunta: Como é possível que todas as coisas mudem e desapareçam e a Natureza, apesar disto, continua sempre a mesma?
Para tanto, procuraram um princípio a partir do qual se pudesse extrair explicações para os fenômenos da natureza. Um princípio único e fundamental que permanecesse estável junto ao sucessivo vir-a-ser. Tales vai dizer que o princípio de tudo é a água; Anaximandro, o infinito indeterminado, Anaxímenes, o ar; Heráclito, o fogo; Pitágoras, o número; Empédocles, os quatro elementos: terra, água, ar, fogo, em vez de uma substância única.
Vejamos as reflexões filosóficas de alguns pensadores pré-socráticos:

Tales de Mileto (625-558 a.C.)
Tales foi comerciante de sal e de azeite de oliva, e enriqueceu como proprietário de prensas de azeitona durante uma safra promissora. Sabe-se que Tales previu um eclipse ocorrido em 585 a.C.
De suas idéias quase nada é conhecido. Aristóteles o chama de fundador da filosofia, e lembra que a sua doutrina baseia-se na água como o elemento primordial de todas as coisas (physis, fonte originária, gênese), e que para suportar as transformações e permanecer inalterada, a água deveria ser um elemento eterno.
Atribui-se a Tales a afirmação de que "todas as coisas estão cheias de deuses", o que talvez pode ser associado à idéia de que o imã tem vida, porque move o ferro. Essa afirmação representa não um retorno a concepções míticas, mas simplesmente a idéia de que o universo é dotado de animação, de que a matéria é viva (hilozoísmo). Além disso, elaborou uma teoria para explicar as inundações do Nilo, e atribui-se a Tales a solução de diversos problemas geométricos (exemplo: teorema de Pitágoras).
Tales foi um dos filósofos que acreditava que as coisas têm por trás de si um princípio físico, material, chamado arqué. Para Tales, o arqué seria a água. Tales observou que o calor necessita de água, que o morto resseca, que a natureza é úmida, que os germens são úmidos, que os alimentos contêm seiva, e concluiu que o princípio de tudo era a água. Com essa afirmação deduz-se que a existência singular não possui autonomia alguma, apenas algo acidental, uma modificação. A existência singular é passageira, modifica-se. A água é um momento no todo em geral, um elemento. Tales com essa afirmação queria descobrir um elemento físico que fosse constante em todas as coisas. Algo que fosse o princípio unificador de todos os seres.
Principais fragmentos: “... a água é o princípio de todas as coisas...”.
“... todas as coisas estão cheias de deuses...”.
“... a pedra magnética possui uma alma porque move o ferro..."

Anaximandro de Mileto (610-546 a.C.)
Discípulo e sucessor de Tales. Anaximandro recusa-se a ver a origem do real em um elemento particular; todas as coisas são limitadas, e o limitado não pode ser, sem injustiça, a origem das coisas. Do ilimitado surgem inúmeros mundos, e estabelece-se a multiplicidade; a gênese das coisas a partir do ilimitado é explicada através da separação dos contrários em conseqüência do movimento eterno. Para Anaximandro o princípio das coisas - o arqué - não era algo visível; era uma substância etérea, infinita. Chamou a essa substância de apeíron (indeterminado, infinito). O apeíron seria uma “massa geradora” dos seres, contendo em si todos os elementos contrários.
Anaximandro tinha um argumento contra Tales: o ar é frio, a água é úmida, e o fogo é quente, e essas coisas são antagônicas entre si, portanto um o elemento primordial não poderia ser um dos elementos visíveis, teria que ser um elemento neutro, que está presente em tudo, mas está invisível.
Esse filósofo foi o iniciador da astronomia grega. Foi o primeiro a formular o conceito de uma lei universal presidindo o processo cósmico totalmente.
De acordo com ele para que o vir-a-ser não cesse, o ser originário tem de ser indeterminado. Estando, assim, acima do vir-a-ser e garantindo, por isso, a eternidade e o curso do vir-a-ser.
O seu fragmento refere-se a uma unidade primordial, da qual nascem todas as coisas e à qual retornam todas as coisas. Anaximandro recusa-se a ver a origem do real em um elemento particular. Do ilimitado surgem inúmeros mundos, e estabelece-se a multiplicidade; a gênese das coisas a partir do ilimitado é explicada através da separação dos contrários em conseqüência do movimento eterno.
Principais fragmentos: “... o ilimitado é eterno...”
“... o ilimitado é imortal e indissolúvel...”

Anaxímenes de Mileto (588-525 a.C.)
O princípio de tudo, o arqué, seria o ar e as coisas da natureza seriam o ar condensado em vários graus. A rarefação e condensação do ar forma o mundo. A alma é ar, o fogo é ar rarefeito; quando acontece uma condensação, o ar se transforma em água, se condensa ainda mais e se transforma em terra, e por fim em pedra. Foi o primeiro a afirmar que a Lua recebe a sua luz do Sol.
Para esse filósofo o ar representa um elemento invisível e imponderável, quase inobservável e, no entanto, observável: o ar é a própria vida, a força vital, a divindade que “anima” o mundo.
Principais fragmentos: “... do ar dizia que nascem todas as coisas existentes, as que foram e as que serão, os deuses e as coisas divinas...”

Xenófanes de Cólofon (570-528 a.C.)
O elemento primordial para ele é a terra, através do elemento terra desenvolve sua cosmologia. Combate acirradamente a concepção antropomórfica dos deuses, e defende um Deus único, eterno, imóvel.
Fragmentos principais: “... tudo sai da terra e tudo volta à terra...”
“... tudo o que nasce e cresce é terra e água..."

Heráclito de Éfeso (540-476 a.C.)
Cognominado de "obscuro". Afirmava que todas as coisas estão em movimento como um fluxo perpétuo. O escoamento contínuo dos seres em mudança perpétua, e que esse se processa através de contrários. A lei fundamental do Universo é o devir, que significa contínuas transformações. Tudo flui e nada fica como é. Coisa alguma é estável. Tudo segue seu curso. Para Heráclito o princípio das coisas é o fogo. O fogo transforma-se em água, sendo que uma metade retorna ao céu como vapor e a outra metade transforma-se em terra. Sucessivamente, a terra transforma-se em água e a água, em fogo. Todas as coisas mudam sem cessar, e o que temos diante de nós em dado momento é diferente do que foi há pouco e do que será depois. Afirmou: "Nunca nos banhamos duas vezes no mesmo rio, pois na segunda vez não somos os mesmos, e também o rio mudou."
Grande representante do pensamento dialético. Concebia a realidade do mundo como algo dinâmico, em permanente transformação. Daí sua escola filosófica ser chamada de mobilista (=movimento). Para ele, a vida era um fluxo constante, impulsionado pela luta de forças contrárias. Assim, afirmava que “a luta é a mãe, rainha e princípio de todas as coisas”. É pela luta das forças opostas que o mundo se modifica e evolui.
Heráclito imaginava a realidade dinâmica do mundo sob a forma de fogo, com chamas vivas e eternas, governando o constante movimento dos seres.
Ele estabelece a existência de uma lei universal e fixa (o logos), regedora de todos os acontecimentos particulares e fundamentalmente da harmonia universal, harmonia feita de tensões.
“Tudo flui”. Nada neste nosso mundo é permanente. Tudo está mudando o tempo todo. A mudança é a lei da vida e do universo.
Ele concebe o próprio absoluto como processo, como a própria dialética. O ser é o um, o segundo é o devir. O absoluto se dá a unidade dos opostos. Para ele a essência é a mudança.
Principais fragmentos: “... Todas as coisas estão em movimento...”
“... O movimento se processa através de contrários.."
“... Tudo se faz por contraste; da luta dos contrários nasce a mais bela harmonia...”
“... descemos e não descemos nos mesmos rios; somos e não somos...”

Pitágoras de Samos
É dele a idéia de que o número é o princípio ordenador de todas as coisas, os quais representam a ordem e a harmonia. Assim, a essência dos seres, teria uma estrutura matemática. Para Pitágoras, aquele que compreende todas as relações numéricas chega à essência das coisas. Portanto, a substância das coisas é o número. Pitágoras interpretou a forma dualista da teoria dos opostos e a descoberta de ordem matemática, sobretudo do famoso teorema que lhe é atribuído.
Principais Fragmentos: “... o princípio das matemáticas é o princípio de todas as coisas.."


Parmênides de Eléia (530-460 a.C.)
É a doutrina mais profunda de todo o pensamento socrático, mas também a mais difícil interpretação. O poema divide-se: o prólogo, o caminho da verdade e o caminho da opinião. Parmênides afirma que a única coisa eterna é o ser; as mudanças são ilusórias. Não haveria, por conseguinte, mudanças nas coisas. Para conhecer o conteúdo verdadeiro e objetivo das coisas é necessário pensar. Conhecer o ser é conhecer a verdade. Parmênides combateu Heráclito que diz que tudo flui. Para Parmênides é absurdo e impensável considerar que uma coisa pode ser e não ser ao mesmo tempo. Parmênides considera que o movimento existe apenas no mundo sensível, e no mundo inteligível o ser é imóvel.
Defendia a existência de dois caminhos para a compreensão da realidade. O primeiro é o da filosofia, da razão, da essência. O segundo é o da crendice, da opinião pessoal, da aparência enganosa, que ele considerava a “via de Heráclito”.
É o primeiro filósofo a formular os princípios lógicos de identidade e de não-contradição, desenvolvidos depois por Aristóteles.
Ao refletir sobre o ser, pela via da essência, o filósofo eleático conclui que o ser é eterno, único, imóvel e ilimitado. Essa é a via da verdade pura, a via a ser buscada pela ciência e pela filosofia.
Ele afirma que o imóvel, o limitado e o esferóide é Deus.
Para ele tudo não apenas deve ser sem-princípio e não-criado como também deve ser preenchido, um plenum. Isso gera uma visão do universo como uma única entidade realmente imutável. Tudo é um.
Principais fragmentos: “... pois pensar e ser é o mesmo...”
“... o ser é, e o nada, ao contrário, nada é...”
“... resta-nos assim um único caminho: o ser é...”
Empédocles de Agrigento (490-435 a.C.)
O princípio gerador de todas as coisas não seria um único elemento, mas quatro elementos: terra, ar, água e fogo, que se misturam em diferentes proporções e formam as várias substâncias que encontramos no mundo. O que unia e desunia os quatro elementos eram dois princípios: o amor e a luta. Os quatro elementos e os dois princípios seriam eternos, mas as substâncias formadas por eles seriam pouco duradouras.
Principais fragmentos: “... duas coisas quero dizer; às vezes, do múltiplo cresce o uno para um único ser; outras, ao contrário, divide-se o uno na multiplicidade..”

Anaxágoras de Clazomena (500-428 a.C.)
Haveria um número infinito de elementos que Anaxágoras chamou de homeomerias, ou sementes invisíveis, que diferiam entre si nas qualidades. Todas as coisas resultariam da combinação das diferentes homeomerias.
Fragmentos Principais: “ ... Todas as coisas estavam juntas, ilimitadas em número e pequenez, pois o pequeno era ilimitado...”

Demócrito de Abdera (460-370 a.C.)
Acha que tudo o que existe é composto de átomos, partículas invisíveis e indivisíveis. Os átomos, infinitos em número, combinam-se uns aos outros e formam todas as coisas. Os átomos são invisíveis porque são muito pequenos e também porque não possuem qualidades. No universo somente existiriam átomos e vácuo (que representaria a ausência do ser). Todas as qualidades das coisas como cor, cheiro, peso, som, beleza, vida e outras, nada mais são do que movimento e modos de ser diferentes dos agregados de átomos que formam a respectiva coisa. Para ele é o acaso ou a necessidade que promove a aglomeração de certos átomos e a repulsão de outros. O acaso é o encadeamento imprevisível de causas. A necessidade é o encadeamento previsível e determinado entre causas. Sua concepção mecanicista – “tudo o que existe no universo nasce do acaso ou da necessidade” Tudo tem uma causa.
Fragmentos Principais: “...os homens fizeram do acaso uma imagem
como pretexto para a sua própria imprudência...”

Outros: Zenão de Eléia,Melisso de Samos, Filolau de Cróton, Arquitas de Tarento, Diógenes de Apolônia e Leucipo de Abdera.
Bibliografia:
CONVITE À FILOSOFIA, Marilena Chauí, Editora Ática, 8a edição, 1997
FILOSOFANDO - Introdução à Filosofia, Maria Lúcia de Arruda Aranha , Maria Helena Pires Martins, Editora Moderna, 2a edição, 1994
BORNHEIM, G. Os Filósofos Pré-Socráticos. São Paulo: Cultrix, 1999.